Cherreads

Chapter 4 - Capítulo 4

— Faz o que quiser, só não me atrapalha. — Frase digna de um tsundere, eu acho.

Com passos pesados ele voltou para dentro do quarto.

— Então quer me ignorar é? Quero ver por quanto tempo você vai conseguir. Muahahahaha!

A risada maligna do demônio parece… Fofa??

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"Agora apareceu uma chunibyo para me dar dor de cabeça." Resmungou mentalmente já que preferia não dizer isso em voz alta. Ele tinha suas razões.

Decidido a terminar o que estava fazendo, ele pegou a carteira do chão — Antes de todo o caos ela estava em cima da mesinha de centro do quarto. — E caminhou até a saída.

— Se sumir pelo menos um cup noodle, eu ligo pra polícia! Enquanto isso, arruma essa bagunça que você fez. — ameaçou, se virando para Liliveth, com um olhar de carrasco.

Em seguida, fechou a porta, deixou o apartamento e seguiu com o que havia planejado.

Quando a porta se fechou a garota demônio imitou o rapaz zombando dele.

— Se nhenhenhe… Seu chato!

— Melhor eu começar a arrumar logo — Apesar de não ter gostado da interação com ele, ela sentia que era melhor não abusar da sorte.

Sem mais reclamações, a garota começou a flutuar pela casa seguindo rastro de bagunça. Usando sua telecinese, foi catando cada coisinha e colocando no devido lugar. Parecia que vários empregados invisíveis estavam cuidando da arrumação.

Não demorou até que o apartamento estivesse arrumado. Os poderes de Liliveth são bem convenientes quando ela quer.

O problema agora era o tédio. Com a casa toda arrumada e sem poder revirar a cozinha, a garota estava afogada em um tédio mortal.

— Buuff — Um desabafo.

Tudo o que ela fazia era flutuar no silêncio da casa.

— Aquele cara chato tirou toda a minha diversão… E ainda nem foi embora…

— Então esse deve ser o momento perfeito pra começar a planejar como assustar ele, hehehe. — Os planos malignos começavam a correr pela mente da demônio enquanto ela esfregava suas mão e ria como um vilão de anime.

Animada, ela correu até o guarda-roupa.

Os pés fazendo um barulho assombroso no assoalho velho. Parecia que ela estava assombrando até mesmo a casa ao lado, mas eram apenas seus pés nus correndo no piso podre.

A animação no seu jeito de correr parecia com a de uma criança brincando de pega.

Ela tropeçou perto do guarda-roupa, como se tivesse perdido a prática de usar os pés.

Abriu o guarda-roupa e tirou de lá algum papel em branco.

Revirou mais um pouco e achou uma caneta.

Além de algumas coisas que não a atraíram muito, e outras que ela achou melhor não mexer.

Correu de novo.

Dessa vez até a mesinha de centro, que agora estava arrumada.

Ela mesma que arrumou :).

Colocou o papel sobre a mesa e começou a rabiscar.

Seus rabiscos formavam desenhos malfeitos de seu plano maligno.

Passo por passo.

Todos ilegíveis.

Tão inelegíveis quanto runas antigas de invocação de alguma criatura ancestral.

♱✧♰ ♱✧♰ ♱✧♰

Enquanto a nossa pequena demônio do lençol encardido brincava de planejar maldades. Ren terminava suas compras no mercadinho próximo.

Ele estava indeciso na saudável seção de comida instantânea.

Sua dúvida cruel:

— Qual sabor de miojo eu devo levar?

A dúvida era cruel, mas ainda assim, dava espaço para outra preocupação.

— Acho que eu deveria levar algo para aquela chunibyo também…

"Se ela tava pegando minha comida é porque estava com fome, talvez eu tenha sido muito duro com ela…"

A consciência pesava.

Ren então pegou dois pacotes de miojo qualquer e jogou na cesta.

Lá havia comida, miojo e pudim para a semana inteira, assim ele não morreria de fome durante os próximos dias.

Embora a comida processada e instantânea fossem maioria, ainda havia algum resquício de comida saudável e decente em sua cesta.

Por fim, ele pagou os itens no caixa e saiu.

Não demorou para que logo ele chegasse em casa.

O mercadinho era na outra quadra.

A chave destrancou a porta e ele entrou.

— Estou de volta. — De novo o velho costume de anunciar a saída e chegada.

Novamente ele esperava não ter resposta quando abrisse a porta.

Mas sua expectativa foi quebrada.

Assim que a porta se abriu uma figura de aparência velha e morta surgiu diante dos seus olhos.

De cabeça pra baixo os cabelos da entidade caíam em direção ao chão.

Sua pele flácida e decomposta, como a de um zumbi, escorria como se derretida por ácido.

O tom azul, quase cinza um verdadeiro símbolo da morte.

Os olhos vazios de um corpo que já estava falecido há muito tempo.

Por fim, a boca da figura defunta abria e dizia rouca com hálito de pós-vida:

— B̴̢̓̾e̴̡̼͛͠e̶̙̟͌̅ḿ̶̟͍… v̵̻̈́͆i̵̱̪̇͋i̸̥̺̚i̷̢͗̐n̸̛͕͓̔d̷̘̕o̸͍̲̅…

Isso quebrou o padrão do costume de Ren. Um grito soou.

— AAAAAAHHH!! — Um grito que podia ser ouvido do outro lado da rua.

Ele tombou para trás em puro desespero, como se tivesse visto um fantasma na sua frente.

E de fato viu.

Seus olhos piscaram.

A figura sumiu.

Mas o terror não.

O peito de Ren subia e descia em resposta ao susto.

Sua respiração ofegante e olhos arregalados.

Mas isso logo foi se transformando em raiva. Ele fechou os olhos e franziu o cenho.

"Eu tô ficando louco…" — resmungou.

— Puuff hahahahá — Do outro lado da parede a risada mal contida de Liliveth era ouvida.

— Essa capeta tá me tirando. Mas ela não vai conseguir me tirar do sério. — Respirando fundo, Ren se levantou e decidiu ignorar a risada irritante dela.

Apesar disso, quando ele entrou, não a viu em lugar algum.

"Será que ela foi embora?… Não, ela tava rindo da minha cara agora a pouco, eu ouvi." Concluiu. Mas decidiu não procurar a garota.

Guardou suas compras e foi novamente para o seu quarto.

Sem muito o que fazer, o rapaz tinha diversas opções.

Desde estudar até mesmo jogar algo ou se divertir.

Mas optou por responder algumas mensagens no seu celular vinda de familiares.

Abriu o aplicativo de mensagens e começou a responder as muitas mensagens que surgiam de seu pai indagando como estava indo viver sozinho.

No aplicativo alguns contatos não mandavam mensagem há algum tempo, como o de sua irmã e seu avô, mas ele de fato não deu muita importância.

Enquanto tentava responder os textos, algumas interferências estranhas começavam a acontecer no seu celular.

Como uma coleção de bugs.

Bugs estranhos e irritantes.

Isso estava fazendo Ren querer jogar o celular pela janela.

A figura morta aparece novamente!

Dessa vez, na tela bem diante do seu rosto.

Sua alma congelou novamente e ele não sabia se apertava o celular com mais força ou jogava para longe.

Na dúvida ele tombou para trás outra vez.

A figura só apareceu por alguns segundos, mas foi o suficiente para fazer ele questionar a pouca sanidade que tinha.

— Pronto, agora tô vendo fantasma em 4K… Eu vou para num hospício assim… — Assumiu.

— Pfffff — O riso mal contido era ouvido de novo.

Dessa vez vinha de dentro do armário. 100% de certeza.

Irritado, o rapaz se levantou e correu até o armário abrindo a porta bruscamente.

O susto dessa vez se inverteu.

Liliveth foi quem ficou paralisada.

— Sua chunibyo capeta!!

— tsc iiih… — Ela sabia: lascou.

Ren arrastou ela pelo lençol. Enquanto ela puxava aquele pano encardido como se sua vida dependesse daquilo.

Ren não entendia, mas sabia que ela tinha algum motivo pra proteger tanto aquele cobertor encardido.

— Espere… Não puxa assim… Vai tirar… Para… — Ela pedia quase que fazendo manha.

Não sabia o que importava mais, convencer ele de não jogar ela para fora ou convencer ele a parar de puxar o cobertor.

Chegando na porta, Ren novamente tentou expulsar ela pela porta.

Empurrou a garota, puxou para o lado de fora, mas nada deu certo.

Ainda era como se uma parede não deixasse ela sair.

Apesar disso, estava claro que ela não demonstrava nenhuma resistência, e mesmo assim ele não consegui tirar ela.

Quando tentou demais, a garota sumiu de sua mão deixando ele segurando o ar.

Ela reapareceu novamente no meio do cômodo.

Sinceramente, ela também parecia meio confusa.

— Eu já disse que não posso sair daqui. E por que quer me expulsar? Eu arrumei tudo não foi? — Ela indagava fazendo um beicinho que ele não podia ver, mas tava claro em seu tom.

— Porque você ainda está me perturbando. Não consegue me deixar em paz?

— Eu sou um demônio, assustar é o que eu faço.

— Sua brincadeira de Chunibyo tá me dando dor de cabeça.

— Eu já disse que não sou Chunibyo.

— Enfim… Eu não tenho tempo pra isso e não vou desperdiçar meu domingo com você. Se eu não consigo tirar daqui, então fique ai, só não me atrapalhe.

Ele voltou pro quarto desistindo de vez de tirar ela do apartamento.

— Quer saber, já foi muita dor de cabeça pra mim. Eu vou jogar um pouco. — Seu tom de desistência parecia realmente patético.

Sentando diante da televisão de 32 polegadas que ele tinha em seu quarto, Ren ligou seu console e colocou um jogo genérico de corrida.

Nada de muito impressionante nem com muita personalidade.

Quando o aparelho emitiu sua luz, Liliveth flutuou rápido até ele e passou a mão na tela.

Estava maravilhada com aquele "milagre".

— Ooh… Então é mesmo uma televisão! — O ânimo brilhava nos olhos dela.

— Sim, é uma TV. Desde quando demônios sabem o que é TV?

— Eu não sou um demônio tão velho, seu idiota… Por que essa é tão fina? — Analisava a TV cética.

— Há quanto tempo você não vê uma TV? Elas evoluíram e ser fina agora é o normal.

— Ooh — O "ooh" aparentemente virou sinal de surpresa. — Mas esse DVD player é meio estranho. — Ela dizia apontando para o console ao lado da televisão.

— É um console.

— Console?… É um playstation??!! — O tom aumentava de acordo com a surpresa dela. — Eu nunca tinha visto um de perto…

— Sim. O play 4. — O tom de Ren seguia apático. Típico de quem tá acostumado com essa realidade.

— Quatro???!!! — A surpresa de Liliveth só aumentava.

— tsc… Olha, me deixa jogar… — Suspirou impaciente. Ren percebeu que seria complicado explicar tudo pra ela. Ainda mais se tirar uma reação como aquele "ooh" novamente.

— Tá bom, seu chato.

Liliveth se afastou ficando atrás de Ren.

Para não atrapalhar, seus poderes ocultaram sua presença e ela ficou tão transparente que parecia invisível.

Apesar disso, o choque foi real e bem visível quando ela se deparou com os novos e realistas gráficos.

♱✧♰ ♱✧♰ ♱✧♰

Longas horas de gameplay se passaram e Ren sentiu a fome bater.

ROONC….

Seu estômago deu a clássica roncada avisando: "Vamos morrer".

Ren se levantou em silêncio.

Liliveth saiu do transe dos gráficos.

Ele caminhou até a cozinha.

Ela flutuou logo atrás. Ainda invisível e quase sem presença.

Ela parecia interessada no que ele estava fazendo.

Lá, ele começou a preparar outro miojo para o seu almoço tardio.

Mas diferente…

Dessa vez eram dois.

O cheiro tentador do miojo subiu e era uma verdadeira tentação para Liliveth.

E dessa vez não era uma tentação tão distante.

Ren estendeu um dos potes de miojo pronto para ela.

— hã? — Reagiu confusa.

— Pega logo. Aproveita que tá quente.

Sem muita reação a garota pegou o miojo, mas ainda não conseguia comer. Estava surpresa.

— Vai ficar só olhando? Pode comer.

— O-okay…. — Apesar de surpresa, ela começou a aproveitar o macarrão instantâneo. — Mmm. Eu sentia tanta falta desse sabor. — O rosto corado por baixo do cobertor e os olhos brilhantes estavam escondidos de Ren. Mas estavam ali.

Diante de tanta expressão, Ren só pôde pensar: "… fofa…"

Os dois terminaram de comer e os potes descartáveis foram corretamente jogados no lixo.

Olhando pela janela, o dia estava começando a ficar com aquela cor de pôr do sol.

Clássico de domingo.

Ren observou bem aquele final de dia como se, no fundo, ele tivesse aproveitado bem aquele dia.

Parecia até… Triste… por ver aquele dia acabar.

— uuf… fuu… — Suspirou inspirando fundo e expirando tudo. — Olha… Já está anoitecendo. Por que você não acaba com essa brincadeira de demônio por hoje e volta pra casa?

— Não posso… E eu não estou só brincando…

— Tenho certeza que seus pais estão sentindo sua falta.

— Não estão…

— Então o que planeja fazer? Ficar aqui? — O tom cansado do assunto parecia bem desistente.

— Não é como se eu tivesse como sair daqui… Você viu.

Ren queria retrucar. Dar uma resposta. Mas ele de fato viu, ela não conseguia sair por nada.

— Mesmo assim, eu não tenho um futon para você dormir, só tenho a minha cama.

— Tá tudo bem, eu não planejo dormir… Não preciso mesmo.

Com um último suspiro, Ren desistiu.

— Tudo bem, então. Faça o que quiser.

A noite chegou e com ela o sono.

Ren não hesitou.

Tomou banho.

Se vestiu.

Deitou-se naquele projeto de cama desconfortável.

Seus olhos se fecharam com calma e… depois de muito tempo insistindo adormeceu.

Apesar da preocupação de ter aquela garota estranha em sua casa tão tarde da noite.

A noite seguiu.

Tranquila.

Pacífica.

Sem pesadelos.

Apesar da paz, algo parecia… estranho…

Ren acordou.

No meio da madrugada.

O ar, frio.

O quarto, quieto demais.

Uma ansiedade incômoda.

Ele se levantou.

Olhando ao redor ele percebeu o que estava fora do lugar…

— Cadê a pirralha??…

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