## **Capítulo 6 – A Primeira Queda**
O brilho vermelho pulsava como um coração enraivecido no centro do quarto de Azazel. As runas no chão queimavam, embora não houvesse fogo. O sangue fervia, não em temperatura, mas em essência. Algo dentro dele havia sido ativado. Algo ancestral. Selvagem.
Ele respirava com dificuldade. O círculo mágico emitiu um som agudo, como um grito abafado. Veias saltavam em seu pescoço. Seus olhos estavam fixos na marca que agora se formava lentamente em seu abdômen inferior — uma cicatriz viva, espiralada, que girava em torno do centro onde o sangue fora derramado. O **Dantian de Sangue** havia despertado.
"Então é aqui que começa."
A dor foi imediata. Como se dezenas de agulhas perfurassem sua carne ao mesmo tempo. Ele caiu de joelhos, os punhos cerrados contra o chão, os dentes trincando para não gritar. Seu corpo inteiro tremia. Não por fraqueza. Mas por contenção. Estava se rompendo por dentro.
"Isso não é dor... isso é nascimento."
As veias de seu peito escureceram, e seus olhos brilharam em um tom carmesim intenso. Durante longos minutos, o garoto se contorceu, sentindo as impurezas de seu corpo sendo forçadas para fora. Um líquido negro escorreu por seus poros, denso e pútrido. Era como se seu corpo estivesse se purificando — ou melhor, se reconstruindo.
Quando o brilho cessou, ele desabou no chão. A respiração pesada. Suado. Exausto.
Mas sorrindo.
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Dias se passaram. E Azazel não saiu do quarto. Lizzie bateu à porta todos os dias, mas ele não respondia. Havia colocado selos mágicos por dentro. Estava se isolando. Como um casulo antes da metamorfose.
Na mente dele, as palavras de Marc ecoavam: *"Você está evoluindo para sobreviver."*
Ele não queria apenas sobreviver. Queria ser invencível.
Dentro do quarto, havia começado seu próprio treinamento. Pegava ratos e insetos escondidos entre as paredes da mansão e os devorava. Não por fome. Mas por necessidade. A energia vital de cada criatura, por mais insignificante que fosse, era absorvida pelo Dantian de Sangue, agora em **Estágio Gasoso**. Ele já podia sentir o fluxo, como uma névoa vermelha leve se movendo dentro do abdômen inferior.
A primeira coisa que aprendeu: **quanto mais sangue consome, mais forte fica**.
"Se meu sangue é maldito, então eu farei dele minha arma."
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Na quinta noite, a dor voltou. Mas dessa vez não era física. Era **mental**.
Enquanto dormia, Azazel foi lançado em um pesadelo vívido. Estava em um campo escuro, sem estrelas. Ao longe, via silhuetas humanas, todas viradas de costas, com olhos brilhantes e sem rostos. Entre elas, uma criatura imensa o observava: tinha chifres, asas feitas de ossos e uma coroa cravada em sua pele viva.
"Quem é você?"
A voz da criatura ecoou diretamente dentro da mente de Azazel. Mas ele não respondeu. Apenas avançou.
"Não tem medo?"
"Do quê? De você? Ou da morte?"
A criatura riu.
"Você é como eu. Nasceu para reinar entre monstros."
"Eu não quero reinar. Eu quero sobreviver."
"Então sobreviva... me devore."
Azazel avançou. O sonho se tornou real demais. Ele sentiu o sangue da criatura. Tocou seu coração. E no momento em que o tocou, foi envolvido por uma dor lancinante. Sua mente explodiu em imagens: campos destruídos, cidades em chamas, seres mágicos sendo massacrados por uma sombra com olhos vermelhos.
Ele acordou. Suando. Arfando. Mas com um novo tipo de energia pulsando dentro de si: a **Energia Mental Sanguínea**.
"Agora sei o que sou."
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Na manhã seguinte, Lizzie forçou a entrada no quarto. Arrombou a porta com magia. E o que viu a fez recuar.
Azazel estava de pé, completamente nu, coberto de sangue seco e marcas negras no corpo. Seus olhos tinham um tom vermelho profundo e seu cabelo parecia mais escuro, quase negro. O chão estava coberto de símbolos e ossos de pequenos animais.
"Azazel... o que você fez?"
"Eu acordei, mãe."
Ela correu até ele, mas hesitou. Algo estava diferente. O ar ao redor dele era pesado, denso. Quente como fogo, mas silencioso como a morte.
"Você precisa de ajuda. Isso... isso não é normal!"
"Você ainda não entende. Eu não posso ser normal. Nem quero ser. Eu não estou morrendo. Estou nascendo."
Ela chorou. Mas ele não se abalou. Aproximou-se e limpou o rosto dela com as próprias mãos.
"Não chore. Eu ainda sou seu filho."
"Não... você é muito mais agora."
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No mesmo dia, Marc chegou à mansão e foi chamado por Lizzie. Ao entrar no quarto, viu Azazel sentado em posição de meditação, flutuando levemente acima do chão.
"Impossível..."
Azazel abriu os olhos.
"Eu compreendi o ciclo. Sangue. Corpo. Mente. Tudo está conectado. E eu vou evoluir além do que você entende como vida."
Marc se ajoelhou, não por respeito, mas por medo. Nunca havia presenciado tamanha mudança em tão pouco tempo. Azazel havia absorvido energia vital, purificado o próprio corpo e desbloqueado o Dantian de Sangue sozinho.
"E você tem só dez anos..."
"Dez anos é o bastante para nascer e renascer."
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À noite, Noah entrou no escritório de Marc, onde o médico revisava anotações tremendo.
"Você viu alguma coisa?"
"Vi... vi o nascimento de um monstro. Ou de um salvador. Não sei qual dos dois."
"Ele vai morrer?"
"Não mais. Mas talvez todos os outros morram se ele quiser."
"Então está feito."
Noah se levantou e olhou pela janela, onde o luar batia no telhado da mansão.
"Está na hora de mandar ele e Lizzie para o Norte."
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Na manhã seguinte, Lizzie foi chamada até a sala principal da mansão. Noah a esperava, ao lado de três cavaleiros vestidos com armaduras negras.
"Você será transferida para o Norte. Alegam que a região está precisando de administradores com sua experiência."
Lizzie entendeu imediatamente. Era um exílio.
"Você quer nos tirar daqui."
"Eu quero te proteger. Dele."
Ela engoliu em seco. Então assentiu.
"Quando partimos?"
"Em dois dias."
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No quarto, Azazel escutava tudo com a mente conectada às energias da casa. Cada palavra era uma agulha, mas também um lembrete: ele ainda era visto como uma ameaça. E ameaças não são ignoradas — são eliminadas.
"Que tentem."
Ele sorriu, pela primeira vez em dias. Mas era um sorriso frio. Cortante. Cheio de fúria contida.
"Eu vou para o Norte. E quando voltar... este mundo inteiro vai se curvar."